Desta vez vou contar um pequeno episódio que se passou há muito tempo e que é verídico, sério e cheio de humor.
Estávamos nós nos anos noventa, mais propriamente no ano de mil novecentos e noventa e quatro, quando eu frequentava os pesqueiros das tão célebres palmeiras do jardim do Campo Alegre "Foz do Douro", quando num belo dia soalheiro de verão, um sábado, se passou esta lindíssima história de amizade. Como era habitual, peguei no meu material de pesca, meti-o dentro do meu carro e ao fim da tarde lá fui eu tentar a sorte na minha atividade desportiva "pesca".
Cheguei lá, acomodei-me e lá estava eu a pescar mais os meus companheiros de velhas andanças.
A noite foice aproximando calmamente e sem pressas, de temperatura amena, como que a convidar a permanecer por lá. No entanto, eu porém, à hora habitual; vim a casa jantar com a família. Acabo de jantar e como não tinha nada que fazer, sabe tão bem pescar à noite e conviver com os amigos, depois de uma semana de trabalho de segunda a sexta-feira. De novo, lá vou eu para a pesca. Avisei a minha família em casa, que nessa noite viria mais tarde, para não se preocuparem com o meu regresso mais tardio a casa. Mais uma vez, acomodei-me e comecei a pescar sentado na minha velha cadeira e as minhas velhas canas, juntamente com os meus velhos amigos.
No entanto, muito mais tarde, chega o meu amigo João Paulo todo contente, avisando-me que naquela noite ficava a pescar até mais tarde por via da namorada que hoje é sua legítima esposa, estudava na Universidade do Minho, não lhe ser possível nesse fim de semana vir para o Porto. Pega nas suas coisas e senta-se ao meu lado começando a pescar.
Todos os nossos amigos, um por um, foram-se retirando do pesqueiro.
A noite estava linda, muito convidativa a respirar o ar puro vindo do mar, como já referi; "uma daquelas noites cálidas de verão", nem a brisa do mar a fazia arrefecer. Que noite tão maravilhosa !.. lembro-me como se fosse hoje.
Bem!.. ficamos apenas nós os dois; sentados nas nossas cadeiras lado a lado e respetivas canas à nossa frente.
Deviam ser mais ou menos uma hora da manhã e peixe "nada". Ainda fazendo finca-pé, com persistência, resolvemos ficar até lá para as duas ou duas horas e meia da manhã. Chegou a essa hora e ainda não tínhamos pescado um só peixe, nem uma picadela. Talvez por o mar não estar mexido e assim choco o peixe não se movimenta.
Então, combinamos não arredar dali pé enquanto um de nós não pescasse um peixe.
Porém, quis avisar a minha mulher, mas, naquele tempo ainda não havia telemóveis e por ironia do destino, nem sequer uma cabine telefónica estava por ali perto. Mas lembrei-me que a tinha avisado em casa à hora do jantar, também estava mais tranquilo, por ser já habito de quando em vez ir para casa muito mais tarde.
Ora muito bem!.. como a palavra de pescador nunca falha, adormecemos sentados nas cadeiras, o sol raiou e as nossas canas nem sinal de toque.
Acordamos estremunhados e fatigados por o sono não ser totalmente repousante e não estarmos confortáveis.
Aqui está agora a parte engraçada da história:
Nas primeiras horas da manhã; reportaram a seguinte notícia: "morreram afogados dois pescadores desportivos". Azar o meu, a minha mulher ao ouvir isto e dado eu não estar em casa, como ela é muito sensível, logo pensou que era eu. Entrou em pânico, imediatamente pegou no telefone e ligou a um meu amigo de velha data, já com uma certa idade avançada, mas um exímio pescador desportivo. "O sr Silva", respeitosamente um grande abraço meu para si e respetiva família. Com os seus oitenta anos, ainda faz as suas pesquinhas, mas vai para casa a horas muito decentes.
Bem, o amigo Silva tinha acabado de se levantar quando a esposa atendeu o telefonema da minha mulher. Pois a minha mulher, ainda pintou mais a manta dramatizando e insistindo que tinham morrido afogados dois pescadores desportivos. Ficou também a família Silva em alvoroço, pois, são nossos amigos.
Ora então!.. o meu velho amigo sr. Silva (velho na amizade que nos une), nem sequer hesitou um segundo; nem tão pouco tomou o pequeno almoço. Pegou no carro e vai direitinho ao nosso habitual pesqueiro. Eu, mais o meu amigo João Paulo estranhamos a sua presença aquela hora da manhã. Porém, ele não vinha com muito boa cara; as suas primeiras palavras foram estranhas, mas de satisfação: ó Artur, é... é você, mas... mas não entendo. A sua esposa telefonou-me a dizer que não sabia nada de si e que tinha ouvido no noticiário que tinham desaparecido dois pescadores desportivos. Ainda bem que não é o meu amigo Artur e João Paulo.
E esta história verdadeira acaba com um final feliz, demonstrando que no ceio da pesca desportiva, fazem-se amizades duradouras e para uma vida inteira.
Um abraço cordial,
ArtCar
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